Com pouco treinamento em uma pista que está longe de reproduzir condições das ruas, EM mostra como é fácil obter carteira para conduzir motos de qualquer cilindrada. Processo, criticado pelo próprio Detran, ajuda a explicar escalada de desastres com esse tipo de veículo
Publicação: 21/05/2012 06:34 Atualização: 21/05/2012 09:39
Exame em circuito fechado é estabelecido em portaria federal. Detran-MG defende exigência de mais aulas e também de etapa de rua |
Como preparar um piloto que vai enfrentar sobre duas rodas, no dia a dia, fechadas de motoristas, pedestres descuidados, pista escorregadia, buracos e tráfego enlouquecedor, tudo isso em um veículo no qual o número de mortes de condutores cresceu 846% no país entre 1996 e 2010? Para a legislação de trânsito, a resposta é: em uma pista que mais parece um grande autorama, sem trânsito, onde o candidato sequer troca de marcha e a maior dificuldade é seguir o traçado e não se desequilibrar . A fórmula para a formação de motociclistas os torna candidatos a engrossar as estatísticas de acidentes, em um estado onde a frota de motocicletas cresceu 336% entre 2001 e 2011, transformando-se na segunda maior do país. Foi o que comprovou a equipe do Estado de Minas depois de 15 horas/aula em uma motoescola, que renderam a aprovação no primeiro exame e uma carteira categoria A, cuja titular ainda não tem coragem de pilotar na rua.
Considerada deficiente por especialistas e falha pelo próprio Detran, a formação do motociclista é problema ainda mais grave em Minas, onde o número de mortes em acidentes em geral quase dobrou em uma década. De 2.247 em 2000, a quantidade de óbitos no estado saltou para 4.044 em 2010. A alta, de 80%, é a maior da Região Sudeste, que tem a maior frota do país, segundo dados do Mapa da Violência 2012, do Instituto Sangari. E, mesmo com todas as facilidades e falhas do processo, ainda tem muita gente dirigindo sem carteira. Minas tem mais motocicletas do que habilitados: as motos superam em 18% a quantidade de licenciados para pilotar.
O resultado de tudo isso não parece surpreendente: desastres com motos mataram 838 pessoas em Minas em 2010, 78 delas em BH, informa a Polícia Civil. Nas ruas da capital, ocorre um acidente com motociclista a cada hora, em média. No Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, feridos em duas rodas superam em 60% o número das vítimas de batidas de carro, segundo dados da BHTrans referentes a 2011.
As falhas do processo de habilitação para motos são reconhecidas, inclusive, pelo chefe da Divisão de Habilitação do Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), delegado Anderson França. “O exame avalia apenas o equilíbrio do condutor sobre a moto e algumas regras de circulação. Não atesta se ele está preparado para conduzir a moto em via pública, onde o trânsito é agressivo”, admite. Secretário-geral da Comissão Examinadora do departamento, Arnot José Gomes confirma a avaliação. “A habilidade, o aluno adquire na rua, depois que passa no exame. Aqui (na pista) ele aprende apenas o básico, como arrancar a moto, equilibrar-se e respeitar algumas regras de circulação”, afirmou.
O circuito para obtenção da carteira de moto consiste em uma pista com ziguezague entre cones, paradas obrigatórias, um trecho em formato de oito e um labirinto, com curvas para a direita e esquerda. Conta ainda com uma rampa para controle de embreagem e uma prancha (faixa contínua), onde a moto não pode oscilar. Todo o percurso é feito em primeira marcha, em menos de cinco minutos.
Há quem defenda que mudanças na formação sejam urgentes. Para o coordenador do Departamento de Engenharia de Transporte e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, Nilson Tadeu Nunes, as aulas e o exame deveriam ser feitos na rua, assim como ocorre com os carros. “O problema é sério. O aluno aprovado não tem noção da realidade do trânsito. Nem sempre faz aula à noite ou na chuva. Dá meia dúzia de voltas em um circuito fechado e nunca sai para treinar onde precisa disputar espaço entre carros, caminhões e ônibus”, diz o especialista. Manobras fundamentais, conforme Nunes, também ficam para trás. “O motociclista não aprende a desenvolver a moto, fazer uma ultrapassagem ou uma redução brusca diante de uma situação de perigo.”
Considerada deficiente por especialistas e falha pelo próprio Detran, a formação do motociclista é problema ainda mais grave em Minas, onde o número de mortes em acidentes em geral quase dobrou em uma década. De 2.247 em 2000, a quantidade de óbitos no estado saltou para 4.044 em 2010. A alta, de 80%, é a maior da Região Sudeste, que tem a maior frota do país, segundo dados do Mapa da Violência 2012, do Instituto Sangari. E, mesmo com todas as facilidades e falhas do processo, ainda tem muita gente dirigindo sem carteira. Minas tem mais motocicletas do que habilitados: as motos superam em 18% a quantidade de licenciados para pilotar.
O resultado de tudo isso não parece surpreendente: desastres com motos mataram 838 pessoas em Minas em 2010, 78 delas em BH, informa a Polícia Civil. Nas ruas da capital, ocorre um acidente com motociclista a cada hora, em média. No Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, feridos em duas rodas superam em 60% o número das vítimas de batidas de carro, segundo dados da BHTrans referentes a 2011.
As falhas do processo de habilitação para motos são reconhecidas, inclusive, pelo chefe da Divisão de Habilitação do Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), delegado Anderson França. “O exame avalia apenas o equilíbrio do condutor sobre a moto e algumas regras de circulação. Não atesta se ele está preparado para conduzir a moto em via pública, onde o trânsito é agressivo”, admite. Secretário-geral da Comissão Examinadora do departamento, Arnot José Gomes confirma a avaliação. “A habilidade, o aluno adquire na rua, depois que passa no exame. Aqui (na pista) ele aprende apenas o básico, como arrancar a moto, equilibrar-se e respeitar algumas regras de circulação”, afirmou.
O circuito para obtenção da carteira de moto consiste em uma pista com ziguezague entre cones, paradas obrigatórias, um trecho em formato de oito e um labirinto, com curvas para a direita e esquerda. Conta ainda com uma rampa para controle de embreagem e uma prancha (faixa contínua), onde a moto não pode oscilar. Todo o percurso é feito em primeira marcha, em menos de cinco minutos.
Há quem defenda que mudanças na formação sejam urgentes. Para o coordenador do Departamento de Engenharia de Transporte e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, Nilson Tadeu Nunes, as aulas e o exame deveriam ser feitos na rua, assim como ocorre com os carros. “O problema é sério. O aluno aprovado não tem noção da realidade do trânsito. Nem sempre faz aula à noite ou na chuva. Dá meia dúzia de voltas em um circuito fechado e nunca sai para treinar onde precisa disputar espaço entre carros, caminhões e ônibus”, diz o especialista. Manobras fundamentais, conforme Nunes, também ficam para trás. “O motociclista não aprende a desenvolver a moto, fazer uma ultrapassagem ou uma redução brusca diante de uma situação de perigo.”
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Apesar de admitir ser insuficiente a formação do motociclista, o delegado Anderson França explica que ainda não há como exigir mais rigor. “A regra é estabelecida pela Resolução 168/2004, do Contran. Pelo texto, o exame deve ser feito em circuito fechado.” No entanto, o chefe do setor de Habilitação promete para sexta-feira o envio de ofício ao conselho e ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), pedindo mudanças. “Vamos sugerir que o treinamento mínimo passe de 15horas/aula para 40 horas/aula. Também vamos pleitear que o exame seja feito em duas etapas: na pista e na rua”, afirmou. O assunto já está na pauta de discussões dos dois órgãos. De acordo com o Denatran, vários departamentos do país enviaram sugestões parecidas. Mudanças podem ser anunciadas até o segundo semestre.
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